sexta-feira, 1 de abril de 2011

Colhereiro

Platalea leucorodia


Características e identificação - O Colhereiro (Platalea leucorodia) pertence à família Threskiornithidae e é o único representante desta família (que inclui várias espécies de ibis) com presença regular em Portugal. Com cerca de 80 a 90 cm de comprimento, 115 a 130 cm de envergadura, pescoço e patas compridas e uma plumagem maioritariamente branca, o Colhereiro assemelha-se a uma garça-branca de grande dimensão. Apresenta, no entanto, pescoço e patas mais longas, plumagem de um tom branco-creme e um bico inconfundível, comprido e terminando em forma de colher. Na plumagem nupcial os adultos apresentam uma poupa de penas amarelo-pálido, uma mancha alaranjada na base do bico e uma banda alaranjada à volta do peito. O bico é preto com a extremidade alaranjada na estação reprodutora; as patas são pretas. Nos juvenis as pontas das asas são pretas; o bico é cor-de-rosa, tornando-se preto no primeiro Inverno. Trata-se de uma espécie que não oferece qualquer dificuldade de identificação quando bem observada, nomeadamente quando é possível observar o seu bico inconfundível.

Distribuição e abundância - Distribui-se de forma dispersa na Europa, principalmente nas regiões orientais, estando presente no Ocidente, mas ausente no Norte. Quase três quartos da população mundial nidificam na Europa (entre 5.000 e 9.000 casais), localizando-se os principais núcleos reprodutores na Rússia, Turquia, Hungria, Ucrânia, Países Baixos e Espanha. Para além do Paleárctico Ocidental, nidifica da Ásia Central, até ao Norte da China e desde a Índia até à costa africana do Mar Vermelho, e inverna no Norte de África. Em Portugal está presente no litoral sul do país como invernante, concentrando-se a maioria destas aves nos Estuários do Tejo e Sado, na Lagoa de Santo André e, principalmente, na Ria Formosa e Castro Marim. Como nidificante é raro, tendo mesmo chegado a desaparecer. No entanto, na última década estabeleceu-se novamente como nidificante no Paúl do Boquilobo, em Pêro Pião e na Ria Formosa.
Estatuto de conservação - Esta espécie encontra-se em acentuado declínio no que respeita a mais de dois terços da sua população, embora se registe um actual aumento na Europa Ocidental. Em Portugal tem estatuto de vulnerável. A nível europeu encontra-se protegido pelas convenções de Cites (Anexo II), Bona (Anexo II) e Berna (Anexo II) e ainda pela Directiva Aves (Anexo I).
Factores de ameaça - As principais causas de declínio desta espécie são a perda de locais de nidificação e de alimentação, devido às drenagens, deterioração e perturbação das zonas húmidas. Outros factores de ameaça são a exploração de ovos e crias e a poluição dos corpos de água utilizados como áreas de alimentação.
Habitat - Ocorre principalmente em zonas de clima quente, penetrando localmente em regiões temperadas. Ocupa zonas húmidas de baixa altitude e, de um modo geral, junto à costa, nomeadamente deltas de rios, estuários, lagoas e pauis. Os colhereiros necessitam, para se alimentar, de águas pouco profundas e de fundo lamacento. As colónias estabelecem-se em extensos caniçais, geralmente com arbustos e árvores, ou em ilhas, em locais seguros em relação à perturbação e a predadores terrestres.
Alimentação - Os colhereiros procuram o alimento em águas pouco profundas, em geral até aos 30 cm de profundidade. Caminhando, muitas vezes em grupo, fazem passar o bico com movimentos ceifantes, na cadência dos seus passos, através das camadas fluidas de lama. Deste modo capturam animais que vivem na lama ou que ali se escondem, principalmente insectos e as suas larvas, incluindo Coleoptera, Odonata, Trichoptera, Orthoptera, Diptera e Hemiptera. Alimentam-se ainda de pequenos peixes, moluscos, crustáceos, rãs, répteis e algum material vegetal.
Reprodução - Trata-se de uma espécie colonial, que pode formar colónias mistas com outras aves palustres, nomeadamente garças e corvos-marinhos. Os ninhos são construídos em caniços velhos ou, pontualmente, em árvores, encontrando-se a uma altura superior a 5 metros. De um modo geral, no centro de uma colónia a densidade de ninhos é muito elevada, podendo os vários ninhos, ao longo do tempo, formar uma única plataforma. A época de postura ocorre em Abril, sendo colocados entre 3 a 4 ovos manchados (por vezes 5 ou 6, raramente 7), que são incubados durante cerca de 25 dias. Os juvenis atingem a emancipação com 50 dias de idade.
Movimentos - Esta é uma espécie migradora e dispersiva. Os juvenis fazem pequenas deslocações em Julho e Agosto, mas as aves adultas só abandonam as colónias em Setembro, voltando no ano seguinte, em geral, no mês de Março. A migração é principalmente diurna, sendo comum observar bandos de colhereiros em formação. As populações nidificantes na Europa passam o Inverno na bacia do Mediterrâneo e no Nordeste de África, com excepção de algumas populações do Leste, que podem invernar no Médio Oriente e na Índia.
Curiosidades - A recolha de dados, através da leitura de anilhas, relativos à proveniência das aves reprodutoras em Portugal demonstrou que aquelas que nidificam na Ria Formosa e em Pêro Pião são maioritariamente de origem espanhola, enquanto que as do Boquilobo são, em geral, holandesas.

Locais favoráveis de observação - Em Portugal pode não ser uma espécie de fácil observação, uma vez que está restricta a poucas zonas húmidas nacionais. O Paúl do Boquilobo, os Estuários do Tejo e Sado, a Lagoa de Santo André, a Ria Formosa e as salinas de Castro Marim são os principais locais de invernada da espécie, que só está presente como reprodutora no Paúl do Boquilobo, em Pêro Pião e na Ria Formosa.


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